Os estudos do dia 04/04/2011 a 08/04/2011 da “Sala do Educador” abordam um tema muito delicado na vida dos adolescentes, dos pais, dos profissionais da educação, enfim da sociedade: “drogas e adolescência”, um assunto para a ciência, sociedade, escola entre outros que buscam soluções... Os avanços nas pesquisas de erradicação do consumo e vício se arrastam, de modo que a solução para controle do tráfico não se ouve ou se lê em artigos científicos. Os narcóticos são cada vez mais potentes e eficazes para consumar o vício o mais rapidamente possível, bem como com mais químicas degenerativas e uma penetração no mercado de consumo tão veloz que podemos comparar as redes sociais de comunicação, se alastram país a fora rapidamente, a luz do dia e diante das câmeras.
Embora tendo boa formação sobre o assunto, a sociedade, bem como os profissionais nela ingressos ainda não se dispõem a uma dialética ampla sobre o assunto pertinente, quando não, apresentam comentários impróprios.
‘’Entrou por que quis’’- “tem que morrer logo’’- “que se matem’’- “tava na cara que ia se drogar’’- “esse não tem mais jeito’’- “É melhor não se envolver no assunto”.
A ciência, assim como bons cientistas, tem procurado com o próprio veneno sanar, ou pelo menos aliviar a situação do dependente químico, uma discussão epistemológica que foi barrada nos conceitos da ética, dos entraves da lei, embora o olhar clínico seja um conjunto de fatores que irão determinar a recuperação do dependente químico, esses mesmos fatores poderão determinar se a criança, o adolescente, o jovem ou adulto irão ser usuários ou não de drogas, álcool, cigarros, enfim qualquer outro vício que tire o equilíbrio da natureza humana.
Quero elencar alguns elementos que num primeiro momento é de suma importância compreender para uma questão epistemologia dialética.
1º - SOMOS SERES “HUMANOS”;
2º - NOSSA ÁRVORE GENEALÓGICA;
3º - NOSSO DNA, HERANÇA BIOLÓGICA;
4º - NOSSA INFÂNCIA- ( CONVIVÊNCIA COM PAI, MÃE, PADRASTO, MADRASTA , IRMÃOS, FAMILIARES, ESCOLA, VIDA AFETIVA, COGNITIVA,ESPIRITUAL);
5º - ADOLESCÊNCIA (VIDA AFETIVA, COGNITIVA, RELIGIOSA, ESPORTES, CONVIVÊNCIA FAMILIAR, RELACIONAMENTOS AMOROSOS, ESCOLA, AMIZADES.)
Posso elencar inúmeros fatores pré-determinantes para que alguém possa se interessar pelo consumo de narcótico, o que não justifica o fato. No entanto prefiro apenas relatar fatos ocorridos em minha vida que nortearão nosso dialogo e percepção das minúsculas particularidades que citei.
Sou filho de pedreiro, e uma dona de casa que foi criada na roça, ambos cursaram o antigo Mobral, curso que o governo mantinha para adultos, na década de setenta. Eles cursaram até a quarta série. Meu pai, alcoólatra desde os doze anos de idade, época em que já vivia fora de casa. Fumante e alcoólatra até os quarenta anos de idade, no entanto vinte e oito anos de dependência química. Minha mãe morava em uma região onde havia dentistas a quarenta quilômetros e o percurso se fazia a pé. Para conter dores de dente, desde os nove anos de idade utilizava fumo, claro de desencadeou o vício e se utilizou do tabaco até os quarenta e sete anos, trinta e oito anos de vício. Meu avô paternal consumia álcool e fumo, meus avôs maternos, apenas fumo de corda - assim é chamado o fumo natural feito de folha seca - (quero lembrar aqui o porquê da árvore genealógica, e o DNA que traz a nossa herança genética.) Fui gerado dessa forma. Minha infância foi muito protegida por ambos.
Tenho duas irmãs, uma mais velha e outra mais nova, sou único homem da casa. Carreguei o peso de “arrimo da família”, sempre protegendo a irmã mais velha e a irmã mais nova. Trabalhei duro desde os nove anos, sem esportes e lazer, sempre ia igreja. Minha adolescência sem amizades, minha juventude sem muitas experiências amorosas e sem amizades, com exceção de um único amigo aos dezessete anos. Já fazia um ano que meu pai havia parado de fumar e beber, mas eu não tinha proximidade com ele apesar de morarmos juntos. Ao ir para o serviço militar, descobri coisas novas, aprendi a beber a fumar. Ao voltar do serviço militar comecei a provar a maconha, muito álcool e cigarros, fase que durou dois anos consecutivos. Noitadas, farras, prostitutas, dívidas, evasão escolar - não havia concluído o ensino médio - armas, roubos, sofri um afogamento em um rio onde me retiraram praticamente sem vida, e intenção de tráfico para subir na vida. Então, numa manhã de domingo, exatamente dia 2 de fevereiro de 1993 meus pais me fizeram sentar de frente para eles e minhas irmãs. Foi à hora da verdade, eles relataram toda minha conduta, o que até então eu negava. Após duas horas de conversa ambos disseram uma frase, repetidas vezes, com olhar fixo em meus olhos, “filho nós não temos nada na vida, o que temos vamos vender e oferecer um tratamento, ou o que você precisar para sair dessa vida... “Eu amo você”. Ouvi isso repetida vezes de ambos, seguido de abraços, beijos, pedido de perdão durante semanas...
Sendo esta, a atitude chave para eu ficar sem chão, com as pernas moles, emudecido. Foi o suficiente para que eu saísse de tudo isso. Com a afetividade reconstruída, o cigarro ainda permaneceu por longos quatro anos, mas superei. Trabalhei durante doze anos para recuperar minha idoneidade.
Aos vinte e nove anos casei-me e tive o primeiro filho, dei início ao EJA - Educação de Jovens e Adultos, ao término já havia nascido a segunda filha. Nesse meio tempo trabalhei como padeiro, fruteiro, servente de pedreiro, descarregador de caminhão, abastecedor de mercado, vendedor, eletricista, cozinheiro, garçom, pintor, limpador de piscina, cortador de grama, entre outros. Aos trinta e um anos ganhei uma bolsa de estudo em uma faculdade particular, de um patrão que acreditou em mim, quando muitos não acreditavam.
Enfim aqui estou, há vinte anos sem drogas, sem cigarros e/ou desequilíbrios pertinentes a vícios.
Pelo relato que fiz é fácil identificar, a perda da conduta moral, ética, psicológica, religiosa, biológica, afetiva, cognitiva, outras tantas perdas que não convém citar, o que, no entanto não justifica desvios morais, mas tenho como objeto de análise clínico as poucas e profundas palavras que meus pais me disseram, não foram broncas, acusações, castigos, e sim compreensão, amor, companheirismo, afeto, dedicação, comprometimento comigo. Mesmo sendo maior de idade, não tiveram medo de mostrar a realidade em que eu vivia através de um significante e simples olhar com amor...
Ao questionar a todos, minha intenção não é voltar o olhar para mim, mas sim para a conduta ética de profissionais comprometidos com a educação.
Por isso questiono: Onde está nossa humanidade? Nosso comprometimento humano com o outro?
Quando vejo profissionais de inúmeras áreas com descaso com relação ao assunto me questiono: é preciso ingerir do veneno para se conscientizar? Ou apenas damos opinião por termos “moral em demasia”, “fortaleza o suficiente” para dizer “EU não entro nessa”, “têm que morrer”, “entrou por que quis, agüente as conseqüências”.
Educar ou não Amar eis a questão. Sou educador que ama? Sou pai que ama? Sou mãe que ama? Sugiro que leia o livro de IÇAME TYBA “QUEM AMA EDUCA”. Não me importo com os comentários somente porque passei por tudo isso. Quero apenas que nossas crianças, jovens, adolescentes tenham a oportunidade de serem amados, educados, dirigidos por pessoas conscientes. Por formadores despojados de opiniões discriminatórias e frias, somos educadores, somos pais, amigos, está na hora de assumirmos o papel verdadeiro de “SER HUMANO” e não só entrar na sala de aula para depositarmos conhecimento com indiferença social, racial, psicológica, moral, ética, biológica, religiosa... Somos seres humanos. Erramos? Sim. Motivados? Sim. Induzidos? Sim, mas pela idéia de motivação, afetiva, moral, amorosa, psicológica, científica entre outras, poderemos vencer qualquer realidade, ao sermos “HUMANOS” na íntegra; sair das distâncias que o consumismo, o hedonismo, a rede virtual, a indiferença humana nos traz.
Professor- pai- amigo- cristão- educador- amante do ser humano.
Prof. Clodoaldo